-Estou presa, alguém me acuda!!
-Se eu fosse a ti estava caladinha, quietinha e sem chamar muito à atenção.
-Sabes que eu não sou assim filho. Gosto de estar sempre no meu melhor.
-Pois minha querida, mas mesmo eu, que sou o bem essencial, estou aqui à mão de semear de qualquer boca que me queira trincar, é a minha sina. De que me posso eu queixar?
-Queixa-te da clausura, da falta de ar, livra-te desse plástico maldito. Faz entoar o sino, ou arrota, sei lá! Ele que perca a vontade de nos embrulhar. Só sei que estou farta, sou verde e quero respirar!!
O pão fartou-se de ouvir a alface e tomou uma atitude. Com a ajuda do ovo mais que mexido, do fiambre ranhoso, da alface parva, conseguiram rebentar o plástico.
-Estamos livres!!! (gritava a alface), respiramos ar dos humanos. iupiiii!!
-Dizes isso porque não és pão, vou ficar duro não tarda nada, mas era isto ou morrer louco contigo a chatear!!
A alface estava mais feliz do que nunca, mais verde que qualquer garrafa de JB. Já era final de tarde e ninguém tinha tido vontade de os degustar.
-Estás a ver pão?! Não valeu a pena?!
-Se não te calas eu aperto-te. Deixa-me dormir, já não chega este tremor de terra ensurdecedor?!
O Ricardo chegou, olhou para as sandes e apercebeu-se que o plástico daquela estava solto. Desmontou-a, deu o ovo ao gato, fez torradas com o pão, o fiambre esfumaçou-se na boca dele e a alface? Bem, essa provou que ser chata compensa e foi dar um passeio pela invicta no camião do lixo!